Marcello Grassmann nasceu em 1925, na cidade de São Simão, São Paulo, e é reconhecido como um dos maiores gravuristas e desenhistas do Brasil. Sua carreira multifacetada abrangeu mais de sete décadas, destacando-se pela originalidade e profundidade de suas obras.
Formação e Início de Carreira
Grassmann iniciou seus estudos aos 15 anos na Escola Profissional Masculina do Brás, em São Paulo, onde aprendeu fundição, mecânica e entalhe em madeira entre 1939 e 1942. Foi durante este período que ele começou a experimentar com a xilogravura, uma técnica que marcou o início de sua jornada artística. Em 1943, Grassmann começou a realizar xilogravuras, desenvolvendo rapidamente um estilo próprio. No final da década de 1940, trabalhou como ilustrador para importantes jornais paulistanos como o "Suplemento Literário do Diário de São Paulo" e "O Estado de S. Paulo". Em 1949, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde continuou sua carreira de ilustrador no "Jornal do Estado da Guanabara".
Carreira e Influências
Marcello Grassmann frequentou o Liceu de Artes e Ofícios no Rio de Janeiro, estudando gravura em metal com Henrique Oswald e litografia com Poty Lazarotto. Foi na gravura em metal que o artista encontrou sua forma favorita de expressar seus sentimentos. Em 1952, residiu em Salvador, colaborando com o escultor Mário Cravo Júnior. Em 1953, ganhou o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna, permitindo-lhe estudar na Academia de Artes Aplicadas em Viena.
Oswaldo Goeldi desempenhou um papel crucial na vida e obra de Grassmann. Desde jovem, Grassmann admirava as ilustrações de Goeldi para obras de Dostoievski e outros autores no jornal carioca Amanhã. Durante uma exposição no Rio de Janeiro, o encontro pessoal entre Grassmann e Goeldi marcou o início de uma amizade e colaboração artística. Goeldi apresentou Grassmann a Alfred Kubin, renomado artista austríaco cujas obras sombrias e visionárias tiveram profunda influência no estilo de Grassmann.
"Não estava interessado em tentar fazer algo que fosse aprovado pelos meus colegas, professores ou quem quer que fosse. A grande batalha é lutar contra o aplauso fácil, contra o óbvio, contra a zona de conforto. É preciso achar um caminho próprio. O fato de ter certas habilidades é contraproducente quando há um mundo que contraria tudo isso."
Marcello Grassmann para o Jornal da Unicamp
Durante sua estadia em Viena, Grassmann e Kubin se tornaram amigos próximos. Marcello Grassmann teve a oportunidade de expor em diversas galerias pela Europa, incluindo uma exposição compartilhada com Max Ernst. O estudo detalhado das obras de Hieronymus Bosch também deixou uma marca distintiva na produção artística de Grassmann, enriquecendo o universo fantástico que caracteriza suas obras.
Estilo Artístico e Temática Fantasiosa
A beleza nas obras de Marcello Grassmann não é algo que parte do óbvio. Ela está na forma em que cada traço é feito. Grassmann consegue retratar, com uma sensibilidade especial, o noturno, o sombrio e o grotesco. O grotesco remete à influências de artistas como Goya, Bosch e Kubin.
Grassmann acreditava que suas obras deveriam evocar sentimentos sem grandes explicações, razão pela qual evitava textos e títulos em suas imagens. Ele achava que um título não deveria direcionar ou esclarecer os sentimentos dos espectadores. Em vez disso, preferia que cada pessoa participasse da interpretação da obra, entendendo-a de maneiras diversas. Para Grassmann, deixar a interpretação em aberto era mais valioso do que tentar esclarecer, como um quebra-cabeça cujas peças nunca foram feitas para se encaixar perfeitamente..
"Minhas obras não se encaixam, são meio caóticas. Até diria que caem do nada, do céu – ou do inferno... Não existe um projeto, embora eu não despreze a minha formação – em certo sentido, ela é muito mais importante do que a minha realização."
Marcello Grassmann para o Jornal da Unicamp
Grassmann habilmente conseguiu em suas obras transformar o grotesco em algo admirável, trazendo com naturalidade uma emoção ao seu mundo fantasioso. É no mundo de fantasias, que o artista se sente livre. Suas representações fantásticas e míticas incluem figuras como sereias, harpias, demônios e seres híbridos, que misturam características humanas e animais. Essas figuras evocam um universo mágico e onírico, criando uma simbologia rica e complexa.
"Os Minotauros de Picasso sempre me impressionaram mais que as maçãs de Cézanne. É uma questão de liberdade, na fantasia tudo é permitido."
Marcello Grassmann
As representações de Marcello Grassmann, muitas vezes, seriam aterrorizantes na realidade. Mas, em suas obras, tornam-se fontes de emoção e imaginação, capazes de encantar com sua estética envolvente. Grassmann não se expressa através das cores; suas obras são marcadas quase sempre pelo jogo de claro e escuro, com tons de preto, cinza e branco.
Reconhecimento e Legado
Marcello Grassmann é amplamente reconhecido por sua contribuição à arte brasileira e internacional. Suas obras fizeram parte de importantes coleções, incluindo o MoMA em Nova York, a Bibliothèque Nationale em Paris, o Museum of Fine Arts em Dallas e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 1969, o governo de São Paulo adquiriu sua obra completa para a Pinacoteca do Estado.
A casa onde Grassmann nasceu, em São Simão, foi transformada em museu em 1978, e em 2017 foi fundado o Núcleo de Estudos Marcello Grassmann em São Paulo, visando preservar e difundir seu legado.
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